Carta para o meu pai

Pai,

Você pode não receber

Mas sei que pode me ouvir

Tudo o que eu ainda falo

Apesar de tanto tempo sem nos ver.

Tanto ainda a dizer, tanto a dividir...

Mas a distância nos impede

O tempo, os compromissos...

Muito mais ainda, o tempo que não medimos.

Como queria lhe encontrar

E poder ver de novo o seu sorriso sereno

As meias palavras entendidas

Sentimentos compartilhados

Com o canto dos olhos...

Ou com mais um sorriso sereno.

Saudades sim, de tudo o que tivemos

Saudades porque não temos mais

Saudades do que ainda quero.

Mas a distância e o tempo

Parecem brigar com as lembranças

Parecem me forçar a esquecer

Coisas que jamais esquecerei.

Sinto, como hoje, as emoções

De todos os tesouros que me deu.

Sinto pulsar cada minuto

O que recebi de você

E tudo o que sou por isto

Porque você me preparou.

Há um contraste de desejos

Tentar esquecer para não mais doer

Sanar a dor imaginando esquecer

E nenhum dos caminhos é certo.

O que me alimenta a alma

É uma dor diferente

De tudo o que já passou.

É a certeza de que ainda hoje

Você me vê e me abraça de longe.

Vivo porque ter saudades é amar de verdade

Aquele que me fez feliz como sou

Porque um pai como você

É diferente de todos os outros.

Um dia, não sei quando,

Eu ainda irei lhe encontrar,

Em outra esfera, talvez...

E para esse dia eu só desejo

Que você se lembre de mim

E, mesmo em outra forma,

Possa me dar ao menos

Um único abraço

Com o gosto do meu passado.

emw_14.abril.2008_20:57