2h30m da manhã.
De repente acordei...com o susto de um pesadelo (que é uma outra
história).
Abro a porta de casa e assim fico, sentada na mesa da sala, de frente
para o mar...tendo apenas a luz de um poste iluminando a frondosa amendoeira
que mais parece um presente para quem mora nesta casa.
Trabalho algumas fotos para inserir no blog...e assim prossigo madrugada
adentro.
4h30m, um brilho surge à minha frente...hora de colocar a água para
ferver e fazer aquele cafezinho para despertar (mais ainda). Enquanto esquenta,
resolvi registrar este amanhecer.
Não é o luar...é o reflexo do céu abrindo
uma brecha entre as nuvens da manhã.
Adailton, nosso vizinho é pescador (como muitos nativos)...
prepara sua canoa e segue para lançar sua rede ao mar.
Do outro lado da praia, e na mesma direção,
Zé Pescador liga o motor de seu barco, pontualmente 5h30m em busca de seu pescado. E 7h ele volta para a praia trazendo o resultado abundante de sua pesca, para servir os moradores de Moreré.
Lá num finzinho do horizonte, que na verdade mais parece o início de um tudo, já estão atracadas várias embarcações.
Hoje, primeiro dia de novembro, abre a pesca de camarões.
Fazemos parte de uma das melhores regiões de camarão.
Nada como um café às 5 horas da manhã, acompanhada dos primeiros raios
de sol e também do romance que é, aos meus olhos, a rotina desses pescadores.
6h, como um espectador vip de tudo isso que descrevi, chega o sr. Domingos, 84 anos, nascido na ilha, de expressão típica, pele negra, sem rugas e só de olhar se sente a maciez. Mora na praia de Moreré há 26 anos, quando não havia nada... Um jeito tranquilo, meigo, daqueles vovôs que dá vontade de apertar...e começa a varrer as folhas jogadas ao vento e as algas vindas do mar.
Daí para frente, os raios aparecem rapidamente...as pessoas começam a acordar e algumas delas vêm escovar seus dentes olhando para o mar.
Um tempo depois, já se escuta gargalhadas daqueles que saem para trabalhar em diversos bicos.
Eu disse gargalhadas? Assim, logo pela manhã?
SIM, esse é o espírito da ilha, a essência de quem sabe viver feliz.
Tudo isso parece um ritual...
Não é poema, não é sonho, não tem anda de meloso.
Na verdade, é Verdade!
Temos que agradecer a vida que temos,
e este presente que Deus nos dá,
diariamente.